Jay Bauman: o Evangelho e a Cidade

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Na semana passada tivemos a oportunidade de entrevistar o pastor e missonário Jay Bauman, que esteve conosco em São Luís na conferência No Evangelho, com o tema “O evangelho e a cidade”. Jay é coordenador nacional de Atos 29 Brasil e diretor e fundador do Restore Brazil. Agradecemos ao Jay pela disponibilidade e desejamos que Deus abençoe o seu ministério e família. Segue abaixo a transcrição da conversa:

Como, nos dias de hoje, o evangelho continua a ser uma resposta às necessidades de um país tão diversificado como o Brasil? Seja na política, nas igrejas, quanto às ideologias, como você vê isso no contexto atual do Brasil?

Eu diria que o evangelho é a resposta porque o evangelho essencialmente é Deus falando. Deus sempre tem a resposta porque tudo o que Deus fala é relevante. A gente não precisa fazer Deus ser relevante, Deus é relevante. E a respeito, por exemplo, dessa questão de gênero, os movimentos que buscam mudar a estrutura da família ou o entendimento sobre sexualidade e gênero, eu acho que o que a Bíblia diz é extremamente válido e relevante hoje em dia, porque as pessoas estão meio perdidas, achando que a família nuclear e tradicional é cada vez mais inválida. Então a Bíblia nos guia – nem todo mundo vai entender ou aceitar – mas a Bíblia nos dá uma abertura de como a família deve ser aos olhos de Deus.

Qual é a melhor maneira, no seu entendimento, de igrejas alcançarem grupos que são tidos ainda como à margem da sociedade, e que crescem a cada dia na cidade? Muitas vezes esses grupos dizem que a igreja seria um dos últimos lugares em que eles estariam.

Claro que isso é um desafio enorme, e eu não tenho necessariamente uma resposta, mas eu acho que basicamente a igreja tem que sair das quatro paredes, tem que ser mais missional. A igreja tem que ter um povo que se identifica como missionários e não simplesmente parte de uma congregação. A igreja tem que abraçar mais a ideia de ser uma família, em vez de simplesmente um clube, como muitas igrejas efetivamente são. E eu acho que a mudança para a igreja missional vai exigir uma contextualização do evangelho, que vai abordar assuntos que essas pessoas acham interessantes. Então nesse contexto a solução pode ser encontrada através das artes, da música, e de abordagens inovadoras a respeito do nosso diálogo com a cultura.

A definição de contextualização é basicamente não perder as coisas essenciais enquanto a gente está usando todos os meios possíveis para alcançar todas as pessoas possíveis, como o apóstolo Paulo diria. Então basicamente essa é a ideia. Num lado você tem igrejas que são contextualizadas demais, e se tornam quase igrejas sincretistas. E tem igrejas que estão sub-contextualizadas, que são a maioria das igrejas mais institucionais. Hoje a gente tem que realmente entender a importância de dialogar com a cultura. Contextualização não é trazer UFC para dentro da sua igreja, isso é falta de transcendência. Então, contextualização precisa sempre glorificar Jesus e não estar no centro. Se não for assim, a forma se torna mais importante do que a função.

Em relação aos nossos seminários e instituições confessionais, eles estão prontos e pensando no contexto atual, ou eles estão presos a um modelo antigo?

Cara… não, eles não estão prontos. Next question! (risos) Eu não posso dizer com certeza sobre a cidade aqui (São Luís), porque não tenho familiaridade. Mas nós temos no Rio de Janeiro seminários liberais, seminários descartados, seminários bem institucionalizados, e homens e mulheres que têm mais interesses na carreira do que no chamado ou missão. Temos que voltar à centralidade do evangelho e temos que produzir discípulos e missionários. Tem alguns bons exemplos disso acontecendo em alguns lugares do país, mas não é a regra, e sim a exceção.

Você poderia dar uma palavra para a juventude dos nosso dias? Como a gente ouviu na última mensagem, por um lado a gente está num tempo em que cresce muito o interesse por doutrinas reformadas e pela questão mais confessional, mas a gente também ainda tem um grupo que cresce abraçando ideologias mais liberais, quase que  tomando o secularismo como uma característica. Então que conselho você poderia dar para a juventude se manter no foco correto?

Eu acho que tem vários movimentos atuais, como essa grande discussão entre calvinismo e Missão Integral, por exemplo… mas eu acho que se eu tivesse de dar um conselho, eu diria: só foca em Jesus, foca no evangelho. Não gaste energia demais nessas discussões, porque na prática tem calvinista que não está evangelizando, tem gente da Missão Integral que não está evangelizando, e tem um mundo que está precisando disso. Eu acho, claro que há alguns perigos óbvios nesse meio mais liberal, mas a mensagem de primeira importância não é criticar a Missão Integral nem a Teologia da Prosperidade. A mensagem de primeira importância é a mensagem positiva. A gente tem que ser motivado mais pela mensagem de Cristo em primeiro lugar, entendendo que a gente nunca vai conseguir corrigir todos os males que a gente percebe. E você percebe perceber também, quanto mais você fica mais velho, que coisas que antes você achava tão más, talvez não sejam tão ruins, mas simplesmente perspectivas diferentes.

Então ponha o seu foco em Cristo, não passe tempo demais na internet fazendo memes reformados (risos), não passe seu tempo necessariamente descobrindo heresias em todo lugar ou fazendo uma caça às bruxas. Mas gaste seu tempo edificando outros. Se você for postar alguma coisa, poste uma coisa edificante, uma coisa que vai dar glória a Deus, que vai celebrar não somente o que acontece na sua igreja, mas a igreja do outro também. Deixe Cristo ser o seu foco.

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